O Transplante de Intestino e o Multivisceral são procedimentos complexos e necessários para atender a demanda de uma parcela de pacientes com falência intestinal no nosso país.
No Brasil estas modalidades de transplantes têm tido demanda crescente e neste cenário, surgiram centros transplantadores que vêm realizando estes procedimentos com sucesso.
Em vista do crescente número de pacientes com indicações desta modalidade de Tx, o CBCD – Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva convida quatro importantes centros transplantadores brasileiros para relatarem sua experiência neste campo e as perspectivas futuras.
Índice
A falência intestinal é decorrente de uma grande ressecção intestinal ou doença que impossibilite a absorção mínima necessária dos alimentos (ex: doença de Crohn, dismotilidade).
Essas doenças, assim como a trombose de artéria mesentérica, sempre acometeram a população, mas não havia nenhum tratamento possível no passado.
Em 1968, numa tentativa heroica, o Professor Okumura do HCFMUSP, fez o primeiro transplante de intestino do mundo. Na época não havia infraestrutura e nem mesmo imunossupressores que pudessem oferecer sobrevida satisfatória.
Em 1990 foi realizado o primeiro caso de transplante de intestino com sucesso, e em 2000 foi reconhecido como opção terapêutica para a falência intestinal.
O Tx de intestino passou a ser realizado em alguns centros no mundo e nos últimos anos alcançou resultados animadores com boa sobrevida a longo prazo.
O Hospital das Clínicas de São Paulo vem desde 1995 assistindo pacientes com falência intestinal.
Até o momento foram atendidos 165 pacientes no ambulatório de intestino curto, muitos deles com nutrição parenteral domiciliar.
O Hospital mantém um ambulatório multidisciplinar que treina, dá suporte e assiste pacientes com falência intestinal.
Além disso, o serviço irá nos incorporar nos próximos meses, nova casa de apoio para oferecer suporte aos pacientes e seus familiares durante o período de tratamento.
Foram realizados, no HCFMUSP, quatro transplantes de intestino e dois multiviscerais.
Os pacientes evoluíram para desmame total da nutrição parenteral, mostrando o sucesso do Tx de intestino.
A equipe também desenvolveu técnica inovadora mundial para fechamento de parede abdominal nesses casos.
O transplante de intestino e multivisceral é realidade no Brasil e outras instituições no Rio de Janeiro e São Paulo também realizam transplantes de intestino e multivisceral com bons resultados.
No HCFMUSP existe projeto, em fase adiantada de implementação e com total apoio e suporte do Sistema Nacional de Transplantes / Ministério da Saúde, ampliando sensivelmente o atendimento de pacientes com falência intestinal, com ênfase em atendimento multidisciplinar, reabilitação, nutrição parenteral domiciliar e, transplante de intestino ou multivisceral.
Prof. Dr. Wellington Andraus
Prof. Dr. Luiz Augusto Carneiro
O transplante multivisceral (TMV) é a modalidade mais complexa dos transplantes dos órgãos abdominais com poucos centros capacitados no mundo.
No Brasil o primeiro caso ocorreu em 1 de junho de 2009 na Clínica São Vicente da Gávea - RJ em uma paciente de 56 anos, previamente transplantada de fígado por colangite esclerosante com 17 cirurgias abdominais, fístulas enterocutâneas, trombose extensa do sistema portal configurando uma condição de catástrofe abdominal.
Neste procedimento participaram Eduardo Fernandes, Joaquim Ribeiro, Wagner Marujo, Alcides Salcedas, Rita Moura e Felipe Mello como cirurgiões principais.
A paciente recebeu de um doador jovem o estômago, fígado, pâncreas e intestino delgado, todos em bloco, mas faleceu no pós operatório por choque circulatório refratário.
Nossa formação na Universidade de Nebraska (UNMC), que é um dos maiores e mais reconhecidos centros de TMV e Tx intestinal do mundo, foi muito importante para trazer ao Brasil essa experiência e obviamente com apoio continuado de todo staff da UNMC com destaque ao Prof. Alan Langnas que nos ajudou muito a trazer o projeto desta modalidade para o RJ.
Ao longo dos últimos anos vários médicos da minha equipe estiveram em pequenas temporadas na UNMC estagiando no setor de TMV/ intestinal e reabilitação intestinal.
No início de 2021, o SNT e Ministério da Saúde aprovaram nosso projeto para iniciarmos nosso programa de TMV e intestinal no Hospital São Lucas – Copacabana, o qual foi habilitado para realizar estas modalidades de transplantes.
É público e notório que outros centros brasileiros de reputação reconhecida no Brasil e fora também vem trabalhando ao longo dos últimos anos para construírem este programa, com imersões em diversos centros do mundo com expertise no TMV, para buscarem todo conjunto de ações imprescindíveis para o sucesso dessas operações, que sabemos muito bem que dependem de uma complexa estrutura hospitalar, investimento, persistência e resiliência.
A união dos cirurgiões brasileiros ao redor deste tema e parceira com centros internacionais que busquem efetivamente colaborar com este avanço importantíssimo para a medicina brasileira serão determinantes no sucesso do TMV no Brasil.
Dr. Eduardo Fernandes
Com o apoio do Ministério da Saúde (PROADI-SUS), o Hospital Israelita Albert Einstein tem contribuído intensamente para o desenvolvimento do Transplante Intestinal/Multivisceral no Brasil, tendo realizado o primeiro caso em nosso meio em 2012.
Além disso, o Hospital Israelita Albert Einstein obteve a primeira sobrevida prolongada (5 anos) após a realização de um Transplante Multivisceral. Onze transplantes já foram realizados na instituição.
Após uma fase inicial de implementação do programa, a partir de junho de 2016 possuímos resultados semelhantes aos grandes centros internacionais.
Nos últimos 7 casos realizados, a sobrevida dos enxertos foi de 86% e a sobrevida dos pacientes foi de 100%, com seguimento variando entre 2 meses e 5 anos.
Rafael Pécora
Coordenador e Responsável Técnico - Transplante Intestinal e Multivisceral - HIAE
Marcelo Bruno de Rezende
Coordenador e Responsável Técnico – Transplante Hepático - HIAE
O Centro de Reabilitação Intestinal e Transplante do Hospital Sírio-Libanês e Hospital Municipal Infantil Menino Jesus / PROADI-SUS foi criado em novembro de 2016.
Em outubro de 2018 inaugurou uma unidade exclusiva com 14 leitos para pacientes com falência intestinal no HMIMJ. No mesmo ano teve início o programa de nutrição parenteral domiciliar e criação de um ambulatório multiprofissional dedicado ao tratamento da falência intestinal.
Em 2019 foi realizado o primeiro transplante intestinal intervivos em uma criança do programa no Hospital Sírio Libanês.
O programa já assistiu 54 crianças do sistema público. No momento, além dos pacientes internados, 37 pacientes foram desospitalizados. Desses, 12 obtiveram autonomia enteral e 25 se encontram em nutrição parenteral domiciliar com diferentes graus de autonomia enteral.
A taxa de mortalidade encontrada nesses 5 anos de existência do programa foi de 3,7%. Ao longo desse período em atividade recebemos pacientes de todo o Brasil que são referenciados por meio de uma lista única gerenciada pelo Ministério da Saúde do Brasil. Além da atividade assistencial o CRITx atua na formação de profissionais para o tratamento da falência intestinal.
Dr. Rodrigo Vincenzi CRM 104586
Coordenador do CRITx (Centro de Reabilitação Intestinal e Transplante)
Dr. João Seda Neto CRM 82280
Chefe do CRITx e Responsável Técnico do Grupo de Transplante Intestinal do Hospital Sírio-Libanês
Desenvolvido por Surya Marketing Médico.
